quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Com lanches e rifas, alunos ajudam a pagar tratamento de professora


Helen Lopes, professora da Escola Jardim Aparecida, em Alvorada, está internada há quase um mês com infecção generalizada

por Bruna Scirea
em 09/09/2014 

Com lanches e rifas, alunos ajudam a pagar tratamento de professora Guilherme Pereira/Arquivo Pessoal
Vendas de lanches e roupas ocorrem aos sábados e domingos próximo à escola
Foto: Guilherme Pereira / Arquivo Pessoal
O reconhecimento pelos ensinamentos repassados pela "sora" Helen chegou em um dos momentos em que a educadora mais precisava. Após dez dias em coma induzido, em estado grave devido a uma infecção generalizada, ela acordou para o que chama de "sonho": alunos e ex-alunos se mobilizavam na venda de rifas e lanches e na organização de bazares beneficentes para ajudar com o custeio do tratamento médico e de despesas dos familiares no hospital. 

Fotos da venda de bolos e salgados, informações sobre a recuperação da professora e votos de uma rápida melhora se transformaram em uma corrente do bem a partir da criação do grupo "Ajuda Prof Helen Lopes" no Facebook, que já tem mais de 700 membros. A página virou um canal de comunicação entre Helen Lopes, 39 anos, que se recupera em um quarto do Hospital Divina Providência, em Porto Alegre, e a comunidade da Escola de Ensino Médio Jardim Nossa Senhora Aparecida, em Alvorada. As constantes atualizações revelaram algo que ela nem sequer imaginava:

— Eu não sabia que os tinha os marcado tanto assim. Não sabia mesmo. Essa é uma recompensa, é o que faz tudo valer a pena — afirma a professora, bastante emocionada.

Helen está internada há 24 dias. Tudo começou com a necessidade de retirar um anel de uma cirurgia de redução de estômago, feita anos antes. Como estava debilitada, conforme ela mesma conta, acabou pegando uma bactéria — que gerou um abcesso no fígado e desenvolveu uma infecção generalizada. No quarto desde a última semana,  a professora está sendo medicada com antibióticos. E com o carinho que recebe dos pupilos: 

— Antes da prof. Helen, a formatura dos alunos era só pegar um papel. Ela chegou na escola e disse que não deveria ser assim, mostrou que era possível fazer uma festa de formatura. Ela organizava tudo, achava a produtora e fazia bolo e cuca de madrugada para vender no dia seguinte. Além disso, ela é amiga de todo mundo. Mesmo que às vezes não esteja muito bem, nunca a vimos de cara amarrada. Se não fosse por ela, muita coisa não teria acontecido nesse colégio. A "sora" Helen é a professora da comunidade — sintetiza Guilherme Pereira, 22 anos, ex-aluno e um dos fundadores do grupo na rede social.


Grupo virou canal de comunicação entre professora e comunidade escolar 


Foto: Reprodução, Facebook

Esse sentimento de retribuição é o que rege as atividades dos jovens. Na abertura da página no Facebook, fica claro: "O poder de decidir o momento certo da partida de uma pessoa está nas mãos de Deus, mas creio que com a união de todos nós, amigos, colegas e alunos, poderemos salvar a Sra. Helen deste pesadelo. Vamos mostrar a ela que apreendemos direitinho o que ela nos ensinou, que a união faz a força!", escreveu o ex-aluno Vinicius Moreira.

E bota força nisso. Em duas semanas, conforme Guilherme, foram arrecadados mais de R$ 3 mil reais. Outros R$ 400 foram depositados diretamente na conta da família — os comprovantes foram mostrados em uma prestação  de contas virtual. Todo o valor foi repassado para João Costa, 35 anos, marido de Helen, que deixou o emprego em um restaurante para acompanhá-la durante o tratamento. O dinheiro serviu para  custear  procedimentos médicos como anestesias (que deveriam de pagos no ato, e o plano de saúde faz o reembolso depois) e gastos com alimentação e deslocamento da família até o hospital — João e Helen tem dois filhos: Isadore, 7 anos, e Iuri, 11.

— Abri o Facebook, vi o grupo e pensei: "Nossa, o que é isso?". A gente não espera uma coisa assim. A gente achava que ela era uma professora que havia recebido carinho dos alunos, mas que marcava um tempo passado. Só que a "galera da força", como agora chamamos essa turma, não esqueceu. E a Helen se emociona muito toda vez que abre a página e vê os comentários — conta João.

Ainda não há previsão para Helen receber alta do hospital. As ações voluntárias, realizadas em frente à escola e no Clube de Mães do bairro Aparecida, em Alvorada, continuarão nos finais de semana, conforme o andamento da recuperação da professora — que parece estar logo ali:

— Agora, cada dia aqui é uma vitória, alimentada ainda mais por esse reconhecimento enorme — garante ela.


Imagens das ações são postadas no grupo no Facebook
Foto: Reprodução, Facebook

fonte: Zero Hora

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